A criança como ser especial

É muito desafiador falar sobre educação infantil, um conceito tão amplo que passa por desde a família até a escola. Afinal, a criança é um ser especial e deve ter seus direitos, específicos de sua fase de desenvolvimento, garantidos por todos – família, sociedade e Estado. Mas sabemos que não foi sempre assim.

Antigamente, a criança era vista como um “pequeno adulto”. Foi somente com a promulgação do E.C.A. (Estatuto da Criança e do Adolescente), em 13 de julho de 1990, que ela passou a ser respeitada como um ser especial, merecedor de um tratamento diferenciado e exclusivo.

A importância da infância

Diversos estudos mostram que a maioria dos problemas da vida adulta têm sua origem na infância. Também pudera. A criança vive, inicialmente, em seu âmbito familiar, tendo seus pais como modelos de comportamento.

As experiências familiares e as atitudes dos pais são os principais determinantes em seu processo de desenvolvimento, caracterizando uma personalidade sadia ou patológica. Qualquer conflito familiar afeta, diretamente, o comportamento da criança, podendo trazer consequências irreversíveis na construção de sua personalidade.

Tendo isso em vista, que atitudes devemos tomar no processo educativo de nossas crianças? Quais são as atitudes positivas e as negativas na educação?

Atitudes positivas e negativas na educação de uma criança

É muito difícil estabelecer o que é “certo” ou “errado” no processo educativo de uma criança. Cada uma é única. Além disso, cada pai ou cada mãe tem seu próprio padrão de referência educacional. Aqui, o mais importante é entender quais são os aspectos positivos e os negativos.

Proteção, afeto, amor, aceitação e amizade são algumas atitudes positivas no processo de educação. A criança precisa se sentir amada, em todas as condições e situações – mesmo quando ela não se comporta de acordo com as normas da disciplina. É um amor incondicional.

Em algum momento, a criança pode se rebelar – e isso é absolutamente “normal”. É sinal de que a criança está desenvolvendo sua individualidade e autonomia, primordiais para se tornar um adulto seguro e autoconfiante. É muito importante aceitarmos esta “fúria” da criança, garantindo a oportunidade de se expressar.   

Infelizmente, ainda assistimos muitas atitudes negativas por parte dos pais. Muitos deles, na ânsia de proteger seus filhos, adotam atitudes extremamente negativas e acabam prejudicando o processo de educação – ainda que inconscientemente.

A superproteção é uma delas. A criança recebe muito além do que precisa dos pais em suas necessidades básicas. No momento em que tem que enfrentar o mundo lá fora, frustra-se, pois não encontra o mesmo nível de recompensa.

A rejeição, o abandono e a negligência dos pais é uma das atitudes que mais “estragam” a personalidade da criança. A carência afetiva e a falta do alimento emocional podem trazer consequências aterrorizantes – podendo levar até à morte, literalmente!

O ideal, no processo de desenvolvimento de uma criança, é lhe proporcionar o necessário para suprir-lhe suas necessidades físicas e emocionais. Proporcionar-lhes o suficiente, respeitando o seu ritmo de evolução. Nem mais, nem menos.

A escola no processo de desenvolvimento da criança

À medida que a criança cresce, ela amplia seu quadro de referência social, entrando em contato com outros modelos de comportamento. Neste momento, a influência dos pais é diluída e entram em cena outras forças sociais. A escola e os amigos, por exemplo.

Ler, escrever e contar são funções básicas da escola e essenciais para a alfabetização e a socialização da criança. Portanto, a escola desempenha um papel decisivo em sua educação.

No entanto, não é só a alfabetização o papel da escola. Mais do que isto, ela é responsável, junto com os pais, pela construção da personalidade da criança. É o de prepará-la a assumir o papel de adulto em nossa cultura e sociedade, organizando o seu mundo interno para aprender a lidar com as pressões do mundo externo.

A importância da inteligência emocional

Enfim, a inteligência emocional influencia diretamente no processo de aprendizagem da criança. Isto porque, além da educação formal que ela recebe na escola, a criança necessita, antes de tudo, aprender a se realizar sozinha e individualmente, explorando todas as suas potencialidades e criatividade.

Em minha opinião, a escola deve preocupar-se, mais, com a idade mental e com o nível de maturidade da criança – e não somente classificá-la pela sua idade cronológica. Uma boa educação deve ser dirigida no sentido de construir na criança uma personalidade sólida e sadia. Isto lhe possibilitará conquistar seu equilíbrio interno e dominar o mundo externo.

O processo educativo deve ser conduzido para a humanização e cidadania da criança. Deve ser dirigido para o seu crescimento pessoal, alcançando sua autoconfiança, segurança e evolução, sendo livre para fazer as suas próprias escolhas e, assim, desvincular-se das figuras paternas.

Nosso papel é ensinar a criança a voar, não cortar suas asas.


Os artigos publicados com assinatura neste blog não traduzem a opinião do QEdu. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate da educação e de temas relacionados e de refletir as diversas tendências do pensamentos contemporâneo.

Magdalena Barbera
Autora do livro "Conversando com os pais" (Editora Chiado Books), é Publicitária e Psicóloga com Aprimoramento em Psicanálise da Criança (Sedes Sapientiae), Distúrbios Infantojuvenis (PUC-SP) e Psicologia e Psiquiatria Forense (NUFOR), Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria da USP. Para falar com Magdanela, escreve para mbarberasottano@gmail.com

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