Indicadores podem ajudar a mostrar os avanços em práticas educacionais inovadoras

Quando eu era professor de um curso extracurricular em uma escola privada de São Paulo, tive a oportunidade de acompanhar um ciclo inteiro de estudantes do Ensino Fundamental II. Com uma proposta de imaginarem e executarem projetos que beneficiassem o bairro onde moravam e estudavam, eles entraram no meu curso com 11 anos e se formaram com 14.

Em todo esse período, colecionei histórias de suas conquistas e evoluções pessoais. Uma das que mais me marca é a história do Lucas. Desde sempre muito interessado por tecnologia e audiovisual, era bastante tímido nos primeiros meses e, como seus colegas, sempre pedia autorização para tudo – “Vocês não precisam pedir para ir ao banheiro” era um dos combinados iniciais com a turma. Um dia, no segundo ano de curso, ele chegou entusiasmado e me mostrou uma ideia de um aplicativo que resolveria o problema do trânsito nos horários de entrada e na saída da escola.

“Demais, Lucas! Mas vamos precisar encontrar alguém para nos ajudar a programar. Eu não sei criar um app…”, eu disse. Na hora, ele tirou um celular do bolso e falou: “Não precisa. Já fiz um app para testarmos”. No final do curso, aquele garoto tímido e que pedia autorização para tudo estava criando projetos sem pedir para ninguém e fazendo palestras para platéias com 300 adultos sobre o que o grupo desenvolveu.

 

 

Todo educador coleciona esse tipo de histórias de sucesso e sabe quanto o projeto beneficiou ou não cada um de seus participantes. Mas sempre fica a pergunta: como comprovar esses avanços para garantir que ninguém fique para trás e para conseguir mostrar os avanços de maneira concreta?

Indicadores nacionais como Prova Brasil e SAEB buscam atingir esses dois objetivos em nível de Política Pública. Agora, comecei a conversar com diversos especialistas e educadores para descobrir como professores poderiam conquistá-los em nível local. Aprendi algumas coisas:

  • é sempre importante sabermos de onde partimos e para qual direção queremos ir. Por isso, faça pelo menos uma avaliação inicial e uma avaliação final, sempre refletindo sobre os rumos do trabalho com sua turma
  • Um número elevado de avaliações pode dar muito trabalho e pouco resultado. Mais do que isso, é importante que uma rotina possível para a equipe seja criada para que a avaliação não seja interrompida por falta de tempo
  • Desafie-se a criar um instrumento de avaliação bom o suficiente para capturar os aprendizados. Para isso, é importante que existam dados qualitativos, mas Eduardo Pacífico (um dos fundadores da incrível ONG Gaia+) dá uma dica importante: “Fazer entrevistas também é muito legal. As histórias dão vida para os números. Você precisa contar essas histórias e conhecer as particularidades”. Ou seja: humanizar é sempre importante.
  • Depois que a avaliação é feita, é preciso fazer um trabalho coletivo para melhorar a rota do processo do projeto. Se reúna com todos os envolvidos para compartilhar resultados e refletir sobre o processo

O trabalho com indicadores não deve ser superestimado ou subestimado, mas sim ajudar você, professor, a garantir aprendizado e experiência melhores para seus alunos. Mais do que isso, são importantes para mostrar os avanços nos seus trabalhos que buscam alternativas educacionais que vão além das notas da prova. 🙂


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Caio Dib
Fundador do Caindo no Brasil e designer de serviço no Grupo Tellus. Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, já integrou equipes de instituições como Abril Educação, Instituto Natura e Escola Santi. Autor de Caindo no Brasil: uma viagem pela diversidade da educação e Educação Reinventada: a tecnologia como catalisadora de uma nova escola. Caio também faz parte do conselho editorial dos cadernos Globo e da revista do Sindicato do Ensino Privado do RS (SINEPE/RS). Ele também é parte do comitê de inovação do curso de Pós Graduação “Gestão da Aprendizagem” da Universidade Braz Cubas e do conselho da Noc Educação.

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