Como a Prova Brasil acontece nas escolas?

O sinal do recreio toca e as crianças se agitam porque não querem perder o momento da diversão. Acontece que algumas turmas da escola estão realizando a prova Brasil. Alguns  querem terminar e entregar a prova o mais rápido possível, e a consequência pode ser uma nota baixa na Prova Brasil, que será vista um ano depois, quando o Inep liberar o resultado.

A Prova Brasil 2015 está chegando e esse fato hipotético tem grandes chances de acontecer caso a escola não se prepare para esse momento. Conversamos com professora Marilde Fonseca, que foi aplicadora da Prova Brasil 2013 e hoje é coordenadora de polo da Prova Brasil em Florianópolis (SC), para entender como a prova é aplicada. A professora, hoje aposentada, contou como acontece o processo de aplicação da prova e deu algumas orientações para que as escolas possam se preparar para este momento tão importante.

marilde

QEdu: Como acontece a Prova Brasil nas escolas?


Marilde:

Os aplicadores chegam antes do horário da prova, pois é preciso conversar com a direção e o professor que vai acompanhar a aplicação. Nesse momento, o diretor e o professor respondem questionários sobre seu papel na escola etc.

Depois, vamos para a sala de aula organizar a aplicação. O professor da turma permanece em sala durante toda a aplicação, mas não interage com as crianças durante a prova. Quando há crianças com deficiência na turma, outro aplicador e outro professor capacitado precisam estar juntos também.

Antes de iniciar a prova, o professor da turma assina um termo de sigilo, para não correr o risco de a prova vazar. Isso porque às vezes um mesmo professor leciona em mais de uma escola em que será aplicada a Prova Brasil, então ele não pode nem ter acesso à prova. Em seguida, o aplicador explica para as crianças o que é a Prova Brasil, orienta sobre a importância dela e explica como vai ocorrer o processo. Após o início da prova, as crianças não devem sair até o final da aplicação, a não ser acompanhados pelo professor.

Ao final de todo o processo, o aplicador indicado pelo coordenador solicitará que um funcionário da escola o acompanhe para que ele possa responder ao questionário da escola que está relacionado principalmente à infraestrutura.

 

QEdu: Como é feita a seleção e a capacitação dos aplicadores?

Marilde:

Fui aplicadora da Prova Brasil em 2013. Este ano serei coordenadora de polo, que é a pessoa responsável por selecionar e ajudar na capacitação dos aplicadores.  Existem critérios para selecionar os aplicadores. Eles precisam ter nível médio completo, experiência comprovada em aplicação de avaliações externas de alunos ou de sistema de ensino, que utilizem provas para aferir o conhecimento da Educação Básica e residir no município sede do polo.

Após selecionados, eles passam por uma capacitação de seis horas que geralmente acontece alguns dias antes da prova. Durante esse momento, os aplicadores precisam aprender desde o que é e a importância da Prova Brasil, para poder explicar para o professor e para a turma, até a maneira como ela deve ser aplicada em sala de aula, ou seja, todos os procedimentos burocráticos de organização e aplicação das provas para garantir o seu sucesso.

Cada aplicador é responsável por acompanhar a realização de oito a dez provas numa rede. Em cada uma delas é preciso estar atento para que não ocorra nenhum tipo de fraude. Então os aplicadores aprendem o passo a passo da aplicação: quais os documentos que precisam ser assinados, o que pode e o que não pode falar em sala, onde realizar cada procedimento, como abertura e fechamento do malote de provas, organização das crianças e distribuição das provas em sala etc.

 

QEdu: Os aplicadores ou os professores veem as provas antes? Quais os procedimentos para a aplicação?

Marilde:

Não. Os malotes de provas são abertos na sala, na presença dos alunos e do professor. Quando a prova termina, os malotes também são lacrados na frente dos alunos que ainda estão presentes e do professor, inclusive é preciso que o diretor preencha e assine o Relatório de Aplicação de Prova em que atesta que está ciente que o malote foi fechado.

As provas vêm identificadas e existem provas adicionais para alunos que não estão na lista.Se sobrar prova, por exemplo, elas são recolhidas e colocadas dentro de uma bolsa que fica na posse do aplicador durante toda a avaliação, e ninguém, nem professor e nem aplicador, podem folheá-la. Apesar disso, os professores colaboram muito durante a aplicação. Nunca tive problemas com isso, embora eu saiba que alguns têm resistência com a Prova Brasil.

 

QEdu: Por que isso acontece?

Marilde:

Prova é sempre uma coisa que as pessoas se arrepiam, um assunto muito delicado. Alguns pensam que a prova é uma maneira de controlar o professor, por exemplo.

Outro ponto que pode fazer com que os professores tenham algum receio da prova é que, geralmente quando se avalia uma criança, eles acham que automaticamente se está avaliando o professor e até mesmo o gestor da escola. Alegam que a escola tem problemas internos, e aí aparece uma pessoa de fora para fazer uma avaliação dos alunos… então pode ser que haja resistência da parte deles por isso.

 

QEdu: É possível fraudar a Prova Brasil no momento da sua aplicação? Por exemplo, o professor ou aplicador responder ou ajudar os alunos a solucionarem as questões?

Marilde:

Muito difícil, porque os aplicadores são treinados para não deixarem isso acontecer. Às vezes o professor pode ver alguma questão por algum descuido e mesmo sem querer, mas isso não atrapalha tanto. Os que tive a oportunidade de acompanhar até hoje tinham muita consciência sobre a importância da prova.

Os aplicadores tomam muito cuidado para que não haja nenhuma fraude. Por exemplo, os professores não ficam a sós com os alunos durante a aplicação, as provas não ficam em cima de mesas para que os professores não as vejam… além disso, o professor assina um termo de sigilo, o que dá ainda mais segurança para prova.

 

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QEdu: Você percebe nos professores um reconhecimento da importância da Prova Brasil para a sociedade?

Marilde:

Sim! Na maioria das escolas onde eu apliquei, os próprios professores reforçam com os alunos antes da aplicação da prova a importância dela, explicam como ela funciona para que ele fiquem calmos e possam fazer uma boa prova.

 

QEdu: O que acontece após a aplicação da Prova Brasil?

Marilde:

Há procedimento padrões. Contamos todas as provas, conferimos se a lista de presença foi assinada adequadamente por todos os alunos participantes, fazemos a ata explicando como a prova foi aplicada, colocamos toda a documentação em um envelope e o lacramos. Os aplicadores só saem da escola depois que o diretor assina o Relatório dando ciência de que o envelope foi realmente fechado. Depois disso, o envelope segue para a coordenação geral da prova no município, que dá os encaminhamentos.

 

QEdu: Se você pudesse dar algumas orientações para professores e gestores escolares quanto à Prova Brasil, quais seriam?

Marilde:

São três orientações que eu acho que podem fazer a diferença. A primeira é que os professores dispensem um tempo para ensinar os alunos a como marcarem cartões-resposta e provas como essa. Isso faz toda a diferença, pois o aluno não perde tempo e pode se dedicar mais à resolução da prova. A segunda orientação é que o professor tenha atenção de no dia a dia das aulas explicar o significado de termos comuns que caem na prova, como “assinale”, “circule”, “escolha” etc. Às vezes eles até conseguiriam responder à questão, mas não conseguem entender como respondê-la porque não compreendem esses termos no enunciado.

A última orientação seria para os diretores. É interessante fazer uma reunião com toda a equipe da escola antes da aplicação da prova. Não somente com os professores que irão acompanhar o aplicador, mas toda a equipe mesmo, desde os professores de educação física até a equipe da copa, limpeza etc. Isso evita que aconteçam imprevistos durante a realização da prova que atrapalhem o desempenho dos alunos.

E na sua escola, como é o processo de aplicação da Prova Brasil? Compartilhe sua experiência nos comentários!


Jornalista que adora e vive das mídias sociais e da comunicação na internet. Paraense tomador de açaí. Curioso que aprende por aprender, porque há poucas coisas melhores do que a satisfação de aprender de tudo um pouco e ser cheio de cultura inútil.

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